06 outubro 2009


Há um tipo de negócio ao qual sou incapaz de resistir, os alfarrabistas. Poucas foram as vezes que passei por uma destas lojas e consegui resistir àquela vontade irresistível que nos empurra para dentro e nos impele a perscrutar aqueles livros, uns mais velhos que outros, carregados de pó, inclinando a cabeça ora para a direita ora para a esquerda, consoante a orientação da lateral do livro, tentando intuir o conteúdo pelo título.
Foi assim que em Tomar, há pouco mais de uma semana, encontrei numa esquina um destes alfarrabistas, e claro está, deixei os colegas à espera enquanto eu entrava e dava uma vista de olhos, supostamente rápida. Acontece que logo me deparei com a secção de gastronomia e com um encarregado conhecedor do que tem (o que não é todos os dias). Ao ver que me interessava por este tema aproximou-se oferecendo um comentário sobre os livros presentes na prateleira. Escolhi um primeiro, que nos leva aos anos de 1900 e nos apresenta uma revisão exaustiva das obras publicadas na época sobre cozinha (“Comeres de 1900” de Sónia Monteiro da Colares editora) para além de um conjunto de receitas no mínimo curiosas. Já a caminho da porta de saída, levantou-se e disse-me “Lembrei-me agora de outro livro que certamente lhe interessará” e foi assim que da aparte de trás sacou um livro intitulado “Portugal em verso & mesa” de Adélia de Albuquerque, Seara Nova Editores. Abri-o e logo se me deparou a receita do mais que português “CALDO VERDE”… em verso; e dizia assim:

Coloque em água e sal
As batatas já cortadas
As cebolas fatiadas
Tudo a ferver por igual
Até ficar bem cozido
Faça um puré bem fluido
E ponha a couve cortada
Muidinha e de bom viço
Na panela destapada
E acrescente um chouriço.

Quando tirar da panela
Ponha azeite com cuidado
Sirva na malga ou na tigela,
Este caldo decantado
Por reis de muita coroa.
Corte o chouriço em rodela
Sirva a cada convidado
Com um pedaço de broa;
E no fim canta-se o fado
Mesmo à moda de Lisboa.


Afinal levei dois.