18 junho 2009

O MEC é o maior!!!


“…Tudo me leva a uma observação que a experiência me diz ser justa: quem partir de uma ideia fixa será sempre gastronomicamente prejudicado/a….
Em contrapartida, o/a verdadeiro/a gastrónomo, que quer comer sempre bem -…- será aquele que se colocar absolutamente à mercê do que houver; que partir para o mercado ou para o restaurante sem ideias preconcebidas.
(....) Comparem-se dois exemplos. Um senhor vai à praça à procura de pescadinhas para fritar e de berbigão para o arroz da companhia. Monomaníaco e predeterminado, passa à frente de tudo o que é mais fresquinho e recém-chegado e não descansa enquanto não encontrar o que procura, mesmo que as pescadas já estejam moídas e amoníacas e os berbigões de boca aberta, à beira da agonia. Vai para casa todo contente – e o almoço claro está, é uma merda. Quando a mulher ou o marido ou o amigo se queixa, ele defende-se: “ mas não era isto que querias?”.
A outra senhora (porque as mulheres são muito, muito mais inteligentes) vai à praça sem preconceitos, sem lista. Comerá apenas o que for mais fresquinho, abundante e barato (…) assim fará um belo arroz de tomate ou pimento e uma saladinha de fazer com que os lábios, de tão encantados, mais pareçam as conchas de uma vieira a fugir de um escafandrista, batendo castanholas de prazer.
Um gastou uma fortuna e comeu mal – a outra foi forreta e comeu bem. Apenas porque o primeiro foi estupidamente atrás do apetecimento e a segunda sujeitou-se inteligentemente ao que havia…”.


Excerto do livro “ Em Portugal não se come mal” de Miguel Esteves Cardoso (MEC).

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